Fases da lua

Sabes o que é sentir-te ausente mesmo quando estás comigo? Sabes o que é ter saudades mesmo sem teres ido embora? Sabes o que é estar com alguém, estar feliz mas ter vontade de chorar ao mesmo tempo? Sentir-me incompleta? Com falta de amor, quando simplesmente não te apetece.
Sei que fazes um esforço e se calhar estou a ser injusta mas custa quando me fazes lembrar a lua e as suas fases (sim, tu também tens fases, também tens mudanças repentinas de humor - e de amor, talvez).

Coraçãozinho em estilhaços


 Meu amor, voltaste a bater com a porta. Voltaste a ir não sei para onde e a ir ter com não sei quem. Abalaste sem te justificares e eu só espero que seja como das outras vezes, em que acabas sempre por voltar. Sempre acreditei que voltavas porque sabias que eu era a tua melhor escolha, a tua maior virtude e espero que assim seja (quero acreditar a todo o custo que assim é).
Sabes perfeitamente que de todas as vezes que bates com a porta, fazes com que o meu coraçãozinho fique em estilhaços, pequenos vidros que cortam e que fazem doer. Ahh, meu querido, e não sabes como doem! Quem me dera que soubesses – podia ser que batesses menos vezes com essa porta que qualquer dia se fecha, de vez, para ti.
 Eu amo-te. Amo-te mais que tudo e tu sabes disso – por isso é que voltas sempre. Sabes que nunca seria capaz de te negar porque te amo e tudo o que quero é que estejas aqui. Talvez abuses um bocado dessa situação mas a verdade é que eu sei, e de certo modo custa-me, mas também… eu só estou bem quando tu estás, quando adormeces ao meu lado ou quando me acordas com miminhos e o pequeno-almoço na cama. Porquê tanta instabilidade? Porquê tantas idas e voltas? Quando estás, está tudo bem, tratas-me que nem uma princesa mas de repente tudo muda, que nem uma rajada de vento – parece que te leva os sentimentos. Ficas frio como a noite e desapareces como a lua. Passam-se dias sem saber de ti (aos quais, sinceramente, já me habituei) e de repente voltas a aparecer que nem um sol depois de uns dias de nevoeiro.
És tão inconstante, imaturo mas ao mesmo tempo és surpreendente e imprevisível. Cativas-me com todas essas tuas faces embora nem todas sejam agradáveis. Mas se pensarmos bem: é fácil apaixonarmo-nos pelas qualidades de uma pessoa, mais difícil é apaixonarmo-nos por ela mesmo conhecendo os seus defeitos, não concordas? Que estupidez! Não estás aqui para me responder. Pois é, vou ter de esperar mais uma vez que os ventos mudem e tu voltes a abrir a porta, a entrar como o sol me entra pelas janelas e a colar todos os fragmentos do meu sensível coração.
Eu espero. Eu espero, novamente.

Mulheres

É lixado. É lixado quando vemos que fizemos a pior escolha da nossa vida e que nada vai voltar ao que era. É lixado quando deixamos fugir a mulher da nossa vida por querermos uma noite de sexo e drogas com aquela boazona que sempre quisemos comer. Fumamos merdas que nos fodem a cabeça, que nos alteram as visões, que nos fazem agir por impulso. Traímos a nossa namorada com essa tal boazona que já foi mais rodada que a maçaneta da porta de uma casa de banho pública, sem achar que se vá saber, quando devíamos saber que nesta sociedade de merda tudo se sabe, tudo se comenta. No dia a seguir sentimo-nos mais vazios que o próprio vácuo do universo mas ainda assim, para não custar tanto, achamos que nada está perdido. Mandamos mensagem à namorada, que está perdida e lavada em lágrimas, a desejar bom dia e dizemos que queremos estar com ela. Minutos depois recebemos a resposta. Não hesitamos em abrir, para ter alguma segurança mas o mais provável que lá venha escrito é: “És o maior cabrão que conheci em toda a minha vida. Nunca mais te quero ver. Morre” ou então: “Precisamos de falar.”. Quando acontece o primeiro caso percebemos que tudo está perdido e que provavelmente nem vale a pena lutar mais contra as evidências, acabou e nem vai haver uma última conversa para esclarecimentos. Quando a resposta é “Precisamos de falar.” criamos uma barreira de dúvidas que só o tempo irá quebrar. Achamos que há sempre uma volta a dar no meio de uma conversa, mas enganamo-nos. A conversa serve apenas para entregar coisas que ficaram em casa dela. Mais tarde corremos os bares e as discotecas à procura de boazonas que nos atenuem a dor. Fodemos uma, comemos outra mas o vazio continua e já depois de muita bebida voltamos para casa, sem sequer saber como, ou até mesmo qual o caminho. Chegamos a casa, à cama (aquela cama onde fizemos amor durante infinitas noites) e choramos, gritamos, revoltamo-nos, partimos algo e ficamos assim até adormecermos. No dia a seguir existe a esperança que tudo não tenha passado de um pesadelo mas caímos em nós e percebemos que não existe cola que nos volte a juntar. Passam-se meses e continuamos a frequentar os bares as discotecas. Todas as noites as bebedeiras e as mocas do costume. Tornam-se rotina. O sexo não tem essência e só vale a pena pelos orgasmos que aquela puta nos faz ter. Tenho nojo mas também tenho necessidades e talvez esteja a tentar ocupar o espaço deixado pela mulher que eu amo. De vez enquanto até me cruzo com ela nos bares e discotecas que costumávamos frequentar os dois – está cada vez mais bonita. Aparece com amigas ou às vezes até com uns gajos quaisquer – nesta altura voltam as iras e os ciúmes mas contenho-me – Ela já não me pertence. Perdi-a. A moca era tanta e a outra cabra tão boa – pelos vistos não era tão boa como esta mulher que eu perdi: a mulher da minha vida.

Vaivém

Gostava que, um dia, soubesses que ainda hoje sinto falta do tempo em que adormecia agarrada a ti enquanto me beijavas a testa depois do último «amo-te» do dia.
Adorava que soubesses como são frias as noites em que ninguém tenta ocupar o teu lugar e como são ainda mais geladas aquelas em que o meu corpo arranja um refúgio, um outro alguém a quem se tenta unir mas a que não se consegue prender – talvez assim não tivesses ido embora. Talvez assim não tivesses deixado uma certa mágoa em mim, um espaço vazio que ninguém consegue preencher.
Dilaceraste o meu coração e a minha alma mas se voltasses talvez te perdoasse por saber que iria voltar a estar completa, que o vazio se iria preencher e que aquela mágoa iria desaparecer. Talvez por saber que iria ter as nossas noites de volta, os teus beijos e o teu «amo-te» mas sobretudo por saber que iria ter o teu corpo de volta. (E quem sabe o coração!)

Tempo escorregadio

Por vezes, precisamos de esquecer o que queremos para não sofrermos ou para perceber que afinal merecíamos melhor. Tudo termina um dia, o tempo esgota-se. Cada momento é uma contagem – uma ampulheta que deixa a areia escorregar e quando a areia foge toda para um dos lados vemo-nos perdidos, algo chegou ao fim e não sabemos como virar a ampulheta ao contrário. A verdade é que um dia acordamos e percebemos que temos de voltar a virá-la, custe o que custar, para nosso próprio bem, por isso, decidi esquecer (-nos). Decidi virar a ampulheta que contava o nosso tempo e que deixou escapar toda a areia. Agora sinto que deixei o tempo escapulir-se entre os dedos quando antes pensava que o tinha na palma da mão. Sentia-o tão preso, tão assente. Sentia que o tempo estava preso e nos prendia um ao outro, em momentos que eram (quase) perfeitos. 
Não sei quanto tempo vai ser necessário mas espero que tudo passe rápido, que a ferida sare depressa e que as lágrimas sequem à medida que a memória desfaz cada bocadinho nosso. 
Dói tanto que por vezes é impossível conter as lágrimas, dói tanto que nem sequer um sorriso consegue disfarçar. E por vezes basta uma lembrança, um lugar, uma música para o mundo desabar num só momento, um momento que vai sendo repartido entre sorrisos forçados e lágrimas impossíveis de conter. 
A ampulheta começou uma nova contagem. É só um mau bocado.