Mulher Impossível

«(...)mas depois não resististe a voltar à tua verdadeira natureza.
— E como defines essa natureza ?
— Tu pertences a um tipo de mulher que só vive a plenitude
do amor na distância ou na impossibilidade. És aquilo
a que eu chamo uma “Mulher Impossível”, porque amas com
todas as tuas forças os homens que por uma razão ou outra
não podes ter. Para ti, o amor é a própria luta pelo amor, não é
uma construção nem um edificação. (...)»


Margarida Rebelo Pinto - Sei lá

Coração cheio de nada

Voltei a acordar e a ver que não estavas aqui. É o segundo dia a acordar da mesma maneira, no mesmo vazio. Ontem quando vi que não estavas decidi tomar uns comprimidos, afogar-me na bebida e dormir. São sempre estas as coisas que me acompanham quando não estás. São sempre estas as coisas que me auxiliam quando tu decides que já não queres ficar mais, que já não podes ficar mais, e dás sempre a desculpa de que é para não me magoar. Às vezes penso que é para não te magoares, a ti! Dizes que não podes amar ninguém porque tens o mundo inteiro para amar e milhares de mulheres para fazeres feliz quando eu acredito que tu apenas gostas delas e tens medo de vir a amar realmente alguém. Dizes que não podes pertencer-me a mim porque tens de pertencer a todas aquelas que gritam o teu nome e que te vêem como um hobbie (tal como tu a elas) quando eu creio que tu tens é medo de te prenderes a alguém. Firo o meu orgulho por mais umas noites de sexo contigo, desprovidas de amor, desprovidas de sentimento. Tudo o que tu queres não passa de momentos soltos de prazer e eu gosto tanto de ti que cedo sempre.  Gosto tanto de ti que prefiro acreditar durante alguns dias que vais ficar para sempre e vais fazer de mim uma princesa. Realmente, há algo muito acriançado em mim, talvez essa seja outra das razões para não quereres ficar comigo. É tão estúpida a maneira como me fazes acreditar que é sempre possível que voltes e é ainda mais estúpida a maneira com que eu acredito em ti. Gostava de saber porque é que és diferente comigo? Porque é que decides ficar uns dias e depois «sumir»? Sou diferente? Dou-te mais prazer que as outras? Ou sou mais fácil que todas elas? Existem tantas perguntas e tão poucas respostas.
Gostava que um dia chegasses e dissesses que nunca mais te irias embora, que agora era para sempre e que eu era a mulher da tua vida. Gostava que abrisses a porta e entrasses de malas e bagagens cheias de nada, porque o «nada» é tudo o que tens, neste preciso momento. Esquecias as roupas, os CDS, os livros. Esquecias tudo. Trazias apenas o essencial. Trazias-me amor, carinho e afecto. Trazias-me o coração repleto de sentimentos e entregavas-me o corpo completamente desprovido da essência de todas as mulheres que te passaram pela mão. Bastava estares aqui, tão genuíno, tão puro. Bastava estares comigo e fazias de mim a mulher mais feliz do Universo. Não te peço muito, peço que voltes e que fiques. Achas que o «sempre» é muito tempo?

Eras tu...

«(...)era a minha alma gémea. Dávamos‑nos bem em tudo.
Talvez demasiado bem, porque nos isolámos do mundo. Vivíamos
um para o outro. Acho que foi isso que matou a nossa
relação. De tanto respirar o mesmo ar ficámos sem oxigénio.
Mas agora que estou outra vez sozinha e saboreio a solidão
como um luxo, e a liberdade como um troféu, não consigo deixar
de pensar que deixei partir o único homem que amei verdadeiramente,
totalmente, com o corpo, a alma, o coração e
a cabeça.(...)»
 Margarida Rebelo Pinto - Sei lá