Tempo escorregadio

Por vezes, precisamos de esquecer o que queremos para não sofrermos ou para perceber que afinal merecíamos melhor. Tudo termina um dia, o tempo esgota-se. Cada momento é uma contagem – uma ampulheta que deixa a areia escorregar e quando a areia foge toda para um dos lados vemo-nos perdidos, algo chegou ao fim e não sabemos como virar a ampulheta ao contrário. A verdade é que um dia acordamos e percebemos que temos de voltar a virá-la, custe o que custar, para nosso próprio bem, por isso, decidi esquecer (-nos). Decidi virar a ampulheta que contava o nosso tempo e que deixou escapar toda a areia. Agora sinto que deixei o tempo escapulir-se entre os dedos quando antes pensava que o tinha na palma da mão. Sentia-o tão preso, tão assente. Sentia que o tempo estava preso e nos prendia um ao outro, em momentos que eram (quase) perfeitos. 
Não sei quanto tempo vai ser necessário mas espero que tudo passe rápido, que a ferida sare depressa e que as lágrimas sequem à medida que a memória desfaz cada bocadinho nosso. 
Dói tanto que por vezes é impossível conter as lágrimas, dói tanto que nem sequer um sorriso consegue disfarçar. E por vezes basta uma lembrança, um lugar, uma música para o mundo desabar num só momento, um momento que vai sendo repartido entre sorrisos forçados e lágrimas impossíveis de conter. 
A ampulheta começou uma nova contagem. É só um mau bocado.