Coraçãozinho em estilhaços


 Meu amor, voltaste a bater com a porta. Voltaste a ir não sei para onde e a ir ter com não sei quem. Abalaste sem te justificares e eu só espero que seja como das outras vezes, em que acabas sempre por voltar. Sempre acreditei que voltavas porque sabias que eu era a tua melhor escolha, a tua maior virtude e espero que assim seja (quero acreditar a todo o custo que assim é).
Sabes perfeitamente que de todas as vezes que bates com a porta, fazes com que o meu coraçãozinho fique em estilhaços, pequenos vidros que cortam e que fazem doer. Ahh, meu querido, e não sabes como doem! Quem me dera que soubesses – podia ser que batesses menos vezes com essa porta que qualquer dia se fecha, de vez, para ti.
 Eu amo-te. Amo-te mais que tudo e tu sabes disso – por isso é que voltas sempre. Sabes que nunca seria capaz de te negar porque te amo e tudo o que quero é que estejas aqui. Talvez abuses um bocado dessa situação mas a verdade é que eu sei, e de certo modo custa-me, mas também… eu só estou bem quando tu estás, quando adormeces ao meu lado ou quando me acordas com miminhos e o pequeno-almoço na cama. Porquê tanta instabilidade? Porquê tantas idas e voltas? Quando estás, está tudo bem, tratas-me que nem uma princesa mas de repente tudo muda, que nem uma rajada de vento – parece que te leva os sentimentos. Ficas frio como a noite e desapareces como a lua. Passam-se dias sem saber de ti (aos quais, sinceramente, já me habituei) e de repente voltas a aparecer que nem um sol depois de uns dias de nevoeiro.
És tão inconstante, imaturo mas ao mesmo tempo és surpreendente e imprevisível. Cativas-me com todas essas tuas faces embora nem todas sejam agradáveis. Mas se pensarmos bem: é fácil apaixonarmo-nos pelas qualidades de uma pessoa, mais difícil é apaixonarmo-nos por ela mesmo conhecendo os seus defeitos, não concordas? Que estupidez! Não estás aqui para me responder. Pois é, vou ter de esperar mais uma vez que os ventos mudem e tu voltes a abrir a porta, a entrar como o sol me entra pelas janelas e a colar todos os fragmentos do meu sensível coração.
Eu espero. Eu espero, novamente.