• Cartas •

Nova Iorque, 7 de Janeiro de 2000
            Minha Nicole,
            Estou num dos dias em que sinto um enorme vazio, estou sem ti. Era sempre nestes dias que tu vinhas ter comigo, chegavas com um brilho radiante no olhar e com um sorriso vibrante. Vinhas com um ar de quem tinha mundos para me contar e eu ficava a olhar para ti, à espera que corresses até mim e me abraçasses, depois sentávamo-nos sempre naquele «nosso» banco e eu ficava a olhar para ti enquanto tu me contavas todas as peripécias e sucedidos dos teus atribulados dias e depois de tudo isto passeávamos de mão dada (como fazem os amigos) até à esplanada do costume e bebíamos o nosso habitual café. Nem sabes as saudades que tenho disto. Tudo o que eu mais queria neste momento era estar aí, no mesmo local de sempre, a ver-te chegar com o tal olhar e o tal sorriso. Tudo o que eu mais necessitava agora era um abraço teu. Tudo o que eu mais desejava era ter o teu cheiro na minha camisola, melhor ainda seria tê-lo trazido naquela camisola branca que tu adoravas – dizias sempre que estava lindo e que aquela camisola reflectia não só o meu bronze como a minha personalidade.
            É a primeira carta que te escrevo desde que cheguei. Foi a primeira vez que arranjei coragem para te escrever uma carta. Sempre disseste que um dia adorarias receber uma carta sem estares à espera então, achei por bem fazer-te essa vontade, logo a ti que sempre foste menina de vontades e de detalhes. Prometo que um dia te apareço no sítio do costume à hora do costume, espero que não deixes de lá ir nem que seja apenas para te lembrares de nós. Sabes, nunca tive coragem de te dizer mas… Eu gosto de ti – sempre gostei, só não to disse porque sabia que tu não sentias o mesmo e tive medo que isso pudesse afectar-nos. Sabes que prefiro ter-te como melhor amiga (agora, mesmo à distância) do que não te ter só porque gosto de ti de uma maneira muito própria, muito especial. É amor. Agora que arranjei coragem espero que não me condenes por to ter dito, na verdade eu sou um covarde e só to consegui dizer agora porque tenho a certeza que já não há grande coisa a perder, a não ser as tuas palavras e a tua voz. Tudo o que eu tinha mais medo de perder, perdi – perdi os teus abraços, as tuas mãos, os teus olhos, o teu sorriso, as tuas lágrimas. Perdi o contacto físico. Agora apenas posso perder as tuas palavras, acho que é muito pouco comparado com tudo aquilo de que tive de abdicar pelos meus pais. Sabes que por ti, por nós, tinha ficado aí contigo, no teu/meu mundo, no nosso local habitual a tomar o nosso café do costume na mesma esplanada de sempre, mas os meus pais não o permitiram.
            Prometo-te que assim que poder vou ter contigo, vou procurar-te no nosso sítio à nossa hora, e se não te encontrar percorro este mundo e o outro até te encontrar. Óptimo seria que estivesses no lugar onde te deixei, como uma boneca de brincar que fica onde alguém a pousa, e que fica no mesmo sítio se ninguém a tirar de lá. Só espero que não te tenham tirado de mim porque tu continuas a ser a minha pequenina, a minha boneca, a minha princesa.
            Espero por uma carta tua.
Beijinhos, amo-te darling
Jonh


Lisboa, 16 de Janeiro de 2000
            Jonh,
            Nem imaginas quanto tempo esperei para te ouvir dizer que me amavas, que eu era a tua princesa, a tua menina e no entanto a mulher da tua vida. Estou triste porque poderíamos ter construído e alimentado uma relação enquanto estavas aqui, em Lisboa, ao pé de mim.
            Tu eras a primeira coisa em que eu pensava quando acordava e a última quando adormecia. Era contigo que eu idealizava a minha vida. Tinha mil planos para nós no entanto, e para ser sincera, não acreditava que algum dia eles fossem servir de alguma coisa. Não acreditava que um dia eu pudesse vir a ser mais que a tua melhor amiga e não acreditava que algum dia tu me pudesses amar.
            Não quero que penses que estou desiludida ou magoada contigo porque não estou. Só estou surpreendida pois ainda não consegui perceber o porquê de nunca me teres dito. Sei que me disseste que tinha sido por medo de me perder, mas não percebo. Acho que nunca te dei razões para pensares que eu te fosse deixar para trás, que eu fosse acabar a nossa amizade por um pequeno detalhe, que sem ambos sabermos nos era comum. Sim, acho que com isto tudo acabaste por perceber que eu também te amo. Tu sempre foste a coisa que eu mais ambicionei na minha vida só espero que tu também me consigas perdoar por não te ter contado que, em segredo, eu também te amava.
            Sei que falo de ti no passado, mas isso é irrelevante porque eu amo-te como sempre te amei, independentemente de estares longe ou perto de mim, por isso eu prometo-te que vou ficar à tua espera para sempre.           
            Espero por uma carta tua.
Beijinhos, amo-te honey
Nicole
Nova Iorque, 25 de Janeiro de 2000
            Minha pequenina,
            Estou surpreendido contigo. Nunca imaginei que tu, que és o auge da perfeição pudesses gostar de mim, dessa maneira. Nunca imaginei que me pudesses amar.
            Não entendo como é que tu consegues gostar de mim assim. Sou alto e feio e tenho a voz grossa. Gosto de coisas que não lembram ao diabo e não venero a escola. Tenho problemas e quase nada está certo na minha vida. Arrisco-me a dizer que a única coisa certa que consegui algum dia possuir (por pouco que seja) foste tu. Tu és perfeita, és pequenina, és linda, tens uma voz de princesa e tens uma vida quase perfeita. Não digo perfeita, porque acho que agora que estás sem mim não é igual – não é que eu valha muito, mas toda a gente tem um bocadinho de valor. Tu gostas da escola e és uma aluna exemplar, falas bem e escreves à tua maneira (que é linda). Tu és tanto e eu sou tão pouco e ainda assim tu dizes que me amas. Sabes? Só acredito porque foste tu a dizê-lo, porque sei que tu não serias capaz de me mentir.
            Hoje estou com pressa e esta carta está mal escrita (ainda mais que as outras) mas tinha necessidade de te escrever. Tu merecias que eu o fizesse (o mais depressa possível).
            Não quero acrescentar mais nada, até porque, como já disse, não tenho tempo. Estou cheio de perguntas mas ao mesmo tempo não as tenho.
            Espero por uma carta tua.                                                    
Beijinhos, amo-te darling
Jonh
Lisboa, 3 de Fevereiro de 2000
            Jonh,
            Tu não és assim. Tu não és tipo de rapaz que chora e se lamenta por ser feio ou por a vida não lhe correr tão bem. Nem parecias tu, na última carta que escreveste. Tu sabes bastante bem que as coisas não são como tu as descreveste.
            Sabes bastante bem que não és feio (tu és lindo!) e que eu adoro a tua voz grossa. Tu és um homenzinho, és o meu homenzinho! Tu não escreves mal e não tens assim tantas coisas erradas na tua vida. Reflecte um bocadinho e vê que se calhar a vida só não foi como tu esperavas. Tu querias ter ficado em Lisboa, mas o destino não o quis. Tu não tens culpa alguma disso. Os teus pais quiseram que fosses.
            Sei que estás a aguardar pelos teus 18 anos para poderes vir a correr para Lisboa (e eu também quero isso) mas repara que estás aí há menos de dois meses. É o início. Podias recomeçar a tua vida. Podias sair de casa e caminhar pelas ruas de Nova Iorque. Podias procurar pessoas novas… amizades novas. É o sonho de qualquer pessoa. Estás a ficar dependente de mim e eu não gosto disso. Sempre foste tu que disseste: “Nunca me vou apaixonar e jamais alguma mulher me vai prender.”, Lembraste? Tu sempre foste senhor do teu nariz (mais empinado que qualquer outra coisa). Defendias com unhas e dentes aquilo em que acreditavas acima de tudo e agora? Agora ficas em casa, com um mundo lá fora. Ficas preso às minhas cartas e às nossas fotografias. Não quero que faças isso (e não estou a pedir, estou a mandar!). Amor… Tu tens de conseguir esperar mas tens de fazê-lo da melhor maneira que conseguires. Eu estou aqui e continuo a lutar. Estás sempre comigo. Vais onde eu vou porque eu levo-te na minha cabeça e no meu coração e podes pensar que eu estou a ser demasiado positiva e que não sinto a tua falta, mas estás redondamente enganado. Tu és a pessoa que mais me faz falta na vida. Não há um segundo em que eu não me lembre de ti mas sei que tenho de continuar a respirar, a falar, a comer, a andar… no fundo sei que tenho de continuar a minha vida.
            Vês como eu herdei os teus jeitos tão liberais? Conseguiste marcar a minha personalidade e acredita que nunca ninguém o fez (pelo menos como tu). Todos os teus traços ficaram em mim como cicatrizes e garanto-te que me orgulho muito disso. Sei que também herdaste traços da minha personalidade. Notei isso. Parecias eu a falar quando enquanto ainda estavas em Lisboa e as coisas não corriam tão bem, ou às vezes nem sequer corriam. Agora entendi finalmente o porquê de ao início me ter sentido tão vazia. Tu levaste uma parte de mim. Soubeste retirá-la tão bem que te assemelhaste comigo, na perfeição.
            Desculpa ter-te chamado de “amor” mas sentia essa necessidade. É isso mesmo que eu sinto por ti. Só quero que nas tuas próximas cartas venha lá bem explícito uma ou duas frases do género “Estou a conseguir recuperar quase todos os bocadinhos de mim.” Ou “Nicole, eu estou de volta!”. Não digo que vá ser fácil recomeçar e voltares a ter-te por completo, mas tu és forte e vais consegui-lo. Eu sei-o, sei-o melhor que ninguém.
            Espero por uma carta tua.
Beijinhos, amo-te honey
Nicole
Nova Iorque, 12 de Fevereiro de 2000
            Meu amor,
            Prometo-te que a partir de hoje vou mudar. Vou voltar a ser eu e vou voltar a ser quem tu querias que eu fosse e não penses que é só porque tu me queres de volta, é porque eu também me quero de volta. Vou voltar a sorrir e vou sair da minha porta para fora. Vou procurar pessoas novas e tentar conhecer as mais pequenas ruas de Nova Iorque e prometo que vou tirar muitas fotografias. Isso sempre foi a nossa paixão – a fotografia. A partir de hoje vou começar a enviar-te montes de fotografias, eu prometo. Quero que conheças os sítios onde eu vou passar a estar e quem sabe os amigos que eu vou passar a ter.
            Decidi que não vou mais ficar em casa a remoer da minha sorte. Acordei. ESTOU EM NOVA IORQUE! Além disso tenho estado a pensar nas férias da Páscoa… estão quase aí e eu quero que venhas ter comigo a Nova Iorque. Vou falar com a minha mãe (e quase de certeza que ela vai achar boa ideia) e depois, na próxima carta, envio-te um bilhete. Quero que fiques no mínimo uma semana. Não chega para matar as saudades mas ao menos alivia a necessidade que eu tenho de te ver.
            Desculpa se estou a ser demasiado breve, mas por agora nada mais tenho a dizer. Já fiquei demasiado tempo em casa e vou sair até ser de noite. Vou comprar uma máquina fotográfica melhor e vou fotografar tudo o que me apetecer e aproveito e coloco a carta no correio para ser enviada o mais depressa possível
            Estou cheio de saudades tuas, acredita, minha miúda.       
            Espero por uma carta tua.                                                    
Beijinhos, amo-te darling
Jonh 

Lisboa, 21 de Fevereiro de 2000
            Jonh,
            Gostei de te ver decidido e disposto a voltar ao que eras. Eu sinto falta de ti, e senti falta do teu sentido de posse e da tua determinação, senti falta de quando decidias que tinha de ser de uma determinada forma ou de quando decidias que algo iria ser teu, custasse o que custasse.
            Tenho tantas saudades tuas que por vezes dou por mim a reler textos, a passar fotografias e a chorar desalmadamente, como se nunca mais te voltasse a ver. Sou uma parva, mas sou assim e tenho estas atitudes porque gosto de ti… aliás porque te amo, como nunca amei outro rapaz. Sei que falta pouco para te ver, e não sabes como isso me deixa feliz. Fico à espera do bilhete de passagem para a felicidade. Depois de ler a tua última carta, dei por mim a pensar como iria ser o nosso reencontro depois de saber que nos amamos mutuamente e que podemos viver um para o outro o resto das nossas vidas. O que será que vai acontecer?
            Tu sabes como sou… Uma romântica incurável. Dou por mim a pensar num reencontro à Hollywood, em que tu me esperas no aeroporto, horas a fio, a contar as horas, os minutos e os segundos, e em que eu me encontro num avião a passar o oceano e a ver o mundo numa perspectiva completamente diferente, a admirar cada milímetro visto de cima com a cabeça a roçar no vidro, e ao mesmo tempo a olhar de cinco em cinco minutos para o relógio.
            Bem, agora vou mas é acordar, que já não são horas de dormir, já chega de sonhar acordada. Seja como for o reencontro, sei que vai ser bom apenas pelo simples facto de te reencontrar.
            Espero por uma carta tua.
Beijinhos, amo-te honey
Nicole

Nova Iorque, 1 de Março de 2000
            Meu amor,
                        Acho que nos estamos a habituar à distância. Acho que o peso dos dias e o peso da tua ausência se está a tornar cada vez menor. Não quero dizer com isto que não sinto tanto a tua falta (não imaginas como me fazes falta e como eu tenho saudades tuas!), apenas acho que nos estamos a conformar com as condições que temos. Podemos não nos conseguir tocar, nem sequer ver, mas continuamos a trocar palavras – palavras essas que adquiriram um enorme valor e que continuarão a ganhar força. Nunca na vida dei tanto valor às palavras como dou agora. Tenho guardado todas as cartas que me tens enviado porque sei que um dia vamos querer contar e mostrar aos nossos filhos as cartas que construíram a nossa relação (podemos chamar a estas cartas uma relação à distância, certo?), o momento em que confessámos um ao outro o que sentíamos e todas as coisas que irão ser escritas nestas folhas de papel.
            Sei que um dia vamos ter direito a ser felizes juntos, construir um amor perfeito, um lar, ter filhos e quem sabe netos. Sei que todo o sacrifício irá ser recompensado e que todas as horas que passei sem ti, sem te agarrar, sem os teus beijinhos, sem os teus abraços serão contrabalançadas com momentos em que não te irei largar. Sei que o primeiro desses momentos será na semana de férias em que vais estar aqui, comigo, em Nova Iorque. Estou tão ansioso, tão empolgado, tão… nem sei explicar. Tudo o que eu mais quero é que o tempo passe à velocidade da luz e que o dia da tua chegada chegue o mais depressa possível.
            Não me perguntes qual irá ser a minha reacção ou como eu acho que irá ser o reencontro, é uma pergunta impossível de responder visto que nem te imagino ao meu lado mas sei que vai ser bom, aliás óptimo, apenas pelo simples facto de te ter aqui, de poder cuidar de ti, de poder voltar a dar-te beijos e abraços, de poder mostrar-te o pouco que conheço de Nova Iorque e de muito mais coisas que irão acontecer. Vou dar-te tudo a que tens direito, tudo aquilo que mereces. Vou tratar-te como uma princesa, como a minha princesa.
            Espero por uma carta tua.
            P.S.: Aí tens o teu “bilhete de viagem para a felicidade”.      
Beijinhos, amo-te darling
Jonh
Nova Iorque, 1 de Março de 2000
            Meu amor,
                        Acho que nos estamos a habituar à distância. Acho que o peso dos dias e o peso da tua ausência se está a tornar cada vez menor. Não quero dizer com isto que não sinto tanto a tua falta (não imaginas como me fazes falta e como eu tenho saudades tuas!), apenas acho que nos estamos a conformar com as condições que temos. Podemos não nos conseguir tocar, nem sequer ver, mas continuamos a trocar palavras – palavras essas que adquiriram um enorme valor e que continuarão a ganhar força. Nunca na vida dei tanto valor às palavras como dou agora. Tenho guardado todas as cartas que me tens enviado porque sei que um dia vamos querer contar e mostrar aos nossos filhos as cartas que construíram a nossa relação (podemos chamar a estas cartas uma relação à distância, certo?), o momento em que confessámos um ao outro o que sentíamos e todas as coisas que irão ser escritas nestas folhas de papel.
            Sei que um dia vamos ter direito a ser felizes juntos, construir um amor perfeito, um lar, ter filhos e quem sabe netos. Sei que todo o sacrifício irá ser recompensado e que todas as horas que passei sem ti, sem te agarrar, sem os teus beijinhos, sem os teus abraços serão contrabalançadas com momentos em que não te irei largar. Sei que o primeiro desses momentos será na semana de férias em que vais estar aqui, comigo, em Nova Iorque. Estou tão ansioso, tão empolgado, tão… nem sei explicar. Tudo o que eu mais quero é que o tempo passe à velocidade da luz e que o dia da tua chegada chegue o mais depressa possível.
            Não me perguntes qual irá ser a minha reacção ou como eu acho que irá ser o reencontro, é uma pergunta impossível de responder visto que nem te imagino ao meu lado mas sei que vai ser bom, aliás óptimo, apenas pelo simples facto de te ter aqui, de poder cuidar de ti, de poder voltar a dar-te beijos e abraços, de poder mostrar-te o pouco que conheço de Nova Iorque e de muito mais coisas que irão acontecer. Vou dar-te tudo a que tens direito, tudo aquilo que mereces. Vou tratar-te como uma princesa, como a minha princesa.
            Espero por uma carta tua.
            P.S.: Aí tens o teu “bilhete de viagem para a felicidade”.      
Beijinhos, amo-te darling
Jonh


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