Pus-me fora de mim. Reparei que quando escrevo não me separo de mim. O que escrevo é o que me incomoda ou me faz feliz. Tenho os sentimentos à flor da pele e as emoções emergem tanto como o azeite na água e são difíceis de separar. Talvez isso nunca me vá dar grandes histórias mas uma coisa é certa: a autenticidade está lá, a sinceridade, o coração. Está tudo lá. Está tudo aqui. Reparei também no quão obstinada os meus sentimentos me levam a ser – a ponto de achar que posso mudar o mundo.
É verdade, adorava poder mudar o mundo, ser uma revolucionária, mudar o que está mal e meter o meu cunho positivo no que está bem. Uma imagem bastante utópica, verdade seja dita. Como sei que isto não é possível, contento-me em tentar mudar as pequenas coisas que sei que vão acabar por magoar as pessoas de quem gosto, tirar-lhes o fel já que o aviso antecipado não serve. Tento sempre o mais que consigo e se por um lado me acho frágil por outro percebo que é preciso força (de vontade) para continuar a lutar por certas coisas e contra outras. É a minha obstinação – alcançar os patamares em que acredito, por muito pouca esperança que tenha, às vezes. É verdade, às vezes também cansa não ver resultados, não conseguir mudar certas coisas. Causa uma certa vontade de desistir ou me conformar e esperar que tudo aconteça. E estar lá no fim. Ou no início da confusão. Afinal certos males vêm por bem.