Sei que na minha vida vão haver poucos Homens e que, como tu, certamente não haverá nenhum.
És, foste o ser humano mais lindo que poderia ter tido do meu lado e se por um lado há uma enorme revolta e tristeza dentro de mim, por outro penso que tive a sorte de ter sabido o que era um avô. Ainda para mais o melhor avô do mundo.
Não percebi que tinhas partido até te tocar, embora uma parte de mim soubesse que tinha chegado o fim da tua vida. Apenas quando te toquei, nos últimos minutos. Quando te senti gelado. Quando arranjei coragem para te tocar, como tinha tocado no hospital e te sentia quente, vivo, presente, cheio de força e de vontade. Apenas aí “bati de frente com a realidade” e doeu. A dor mais horrível de sempre.
A partir desse momento vieram-me mil recordações à cabeça. De quando era pequenina e chegava e dizias “Olha a minha mocinha”. De ainda andar contigo de mota. Das voltas de barco. Da tua paciência para passares tardes a ver os teus netos no rio. De irmos ao banco, ao barbeiro, ao supermercado comprar melões e melancias para a avó. Das selfies este Natal. Alinhavas sempre nas nossas brincadeiras e contavas-nos as tuas piadas e adivinhas à hora de almoço.
Vais fazer-me muita falta. Sei que nunca te disse o quanto gostava de ti. Estive para fazê-lo no hospital mas não o fiz porque não queria despertar-te emoções e fazer-te ficar pior. Mas amo-te. Amo-te com tudo o que tenho e vou amar-te para a eternidade porque vais viver sempre em mim, é uma promessa e uma certeza.