Fora de mim

Pus-me fora de mim. Reparei que quando escrevo não me separo de mim. O que escrevo é o que me incomoda ou me faz feliz. Tenho os sentimentos à flor da pele e as emoções emergem tanto como o azeite na água e são difíceis de separar. Talvez isso nunca me vá dar grandes histórias mas uma coisa é certa: a autenticidade está lá, a sinceridade, o coração. Está tudo lá. Está tudo aqui. Reparei também no quão obstinada os meus sentimentos me levam a ser – a ponto de achar que posso mudar o mundo.
É verdade, adorava poder mudar o mundo, ser uma revolucionária, mudar o que está mal e meter o meu cunho positivo no que está bem. Uma imagem bastante utópica, verdade seja dita. Como sei que isto não é possível, contento-me em tentar mudar as pequenas coisas que sei que vão acabar por magoar as pessoas de quem gosto, tirar-lhes o fel já que o aviso antecipado não serve. Tento sempre o mais que consigo e se por um lado me acho frágil por outro percebo que é preciso força (de vontade) para continuar a lutar por certas coisas e contra outras. É a minha obstinação – alcançar os patamares em que acredito, por muito pouca esperança que tenha, às vezes. É verdade, às vezes também cansa não ver resultados, não conseguir mudar certas coisas. Causa uma certa vontade de desistir ou me conformar e esperar que tudo aconteça. E estar lá no fim. Ou no início da confusão. Afinal certos males vêm por bem.

Excerto de algo meu, sem cabimento

(...) Tenho algo mais do que um coração cheio que ainda, bem espremido, te consegue dar algo. Tenho algo mais do que um físico que te atrai. Algo mais que uma personalidade que te cativa. Mas não sei o quê. (...)
Em troca só queria que me desses mais que um coração mal amado e desiludido. E eu sei, amor não se pede mas tu disseste que me davas o que eu queria como prova do que sentes e a única coisa que quero é amor, nada mais, apenas amor. O teu

26, Agosto, 14

Não sei como começar portanto começo por dizer que estou bem, melhor que nunca. (Se a fénix fosse real creio que seria esta a sensação do renascer.)
Sinto-me mais livre e solta que nunca e, por isso, mais feliz. No entanto, sinto falta de algo, sinto falta de ter alguém a tirar-me de mim constantemente com brincadeiras, sinto falta do lado mais enviesado de ter alguém do meu lado mas não quero ninguém e isso eu sei-o, sei-o tão bem. Sinto falta de algo meramente físico e pouco sentimental mas com medida intensidade. Se existe algum nome para esta sensação, eu não sei, mas é dos sentimentos mais estranhos que se pode ter. Como se quisesse uma relação sem relação, fidelidade sem compromisso e sem a parte do amor.
Estou numa fase em que acho que não preciso do afeto de outra pessoa e sim que ela apenas esteja lá, seja uma atração isenta de sentimento. Um corpo a atrair o outro corpo mas não mais que isso, que os beijos sejam mimos para a alma mas não para o coração, de estar presa e solta ao mesmo tempo – é de notar o egoísmo na minha personalidade mas nunca fui de partilhas e não encontro a minha metade: alguém que compreenda “isto” e se disponha ao mesmo, com a mesma entrega não se entregando demasiado. (Devo ter ficado com medo dos excessos.)

Sem título

Hoje não me apeteceu sair de casa. Apeteceu-me ficar aqui resguardada de tudo o que se passa lá fora mesmo sabendo que a maior tempestade está dentro de mim. Apeteceu-me ficar sossegada, mesmo que a minha cabeça ande a mil. E depois olhei para o coração que me deste no dia dos namorados e pensei "O sempre acabou depressa". Não sei se te guarde pelo amor ou pela raiva. Ou até pela dor. Sim, porque dói, tu não sentes mas a mim dói-me. Dói-me a alma, o coração e os olhos. É difícil não chorar e mesmo assim não me sinto aliviada. Nem consigo sentir.
Faz quase uma semana que não sei nada de ti e tudo o que sei preferia não saber, porque as dúvidas também matam, matam é lentamente. Matam a esperança e vão matando o que sinto por ti, vão matando as boas memórias que tinha nossas ou só tuas. E isto mata-me a mim, eu juro.

Sorrisos

Tu sabes, tu vais tentar procurar outro corpo, outro sorriso, outros olhos, outro abraço, outros braços ou até outros dedos entrelaçados e tu também sabes que nada será o mesmo. Sabes até que o perfume não vai ser o mesmo. Sabes que os dias vão ser diferentes, talvez mais vazios ou talvez mais livres. Mas a liberdade de seres feliz... Essa ninguém ma tira. Tu eras feliz quando me vias sorrir, quando me fazias sorrir, quando me vias sorrir em direcção a ti, quando eu te pedia um abraço ou um beijinho, porque mesmo que não dissesses, isso sabia eu, sentia-o (e sentia-o tão bem). Mas a culpa de eu ter deixado de sorrir não foi minha, foi tua. Foste tu que preferiste fazer outra pessoa sorrir, não fui eu que ofereci sorrisos a outro alguém em troca dos teus.
Sabes, eu não tinha em mim todos os sonhos do mundo, tinhas-os em ti, em nós e acabaram. Os sonhos da realidade também acabam como os do sono. Tu decidiste destruí-los e eu decidi destruir-nos da minha memória. Decidi destruir as coisas boas porque foi isso que tu fizeste. Tu apenas te lembras de não me ver sorrir e eu agora apenas me lembro que não tiveste a capacidade de me fazer sorrir. Tiveste a capacidade de me desiludir (culpa minha!). Tiveste a capacidade de me substituir, de precisar de outra pessoa e foi isso que me fez deixar de sorrir. Porque eu daria tudo por um sorriso teu. Sempre dei e foi isso que me destruiu a mim mesma. Deixar de ser feliz e acumular coisas dentro de mim que tinham de sair e não saíram só para que tu o fosses. E eu não te posso culpar mas não consigo não te guardar rancor algum. Ao fim de oito meses deixaste-te levar e agora sou eu quem não consegue perdoar.
"Um homem perguntou a um sábio se ele deveria ficar com sua esposa ou sua amante, o sábio levou duas flores nas suas mãos, uma com rosa e a outra com um cacto, e perguntou-lhe: se você for escolher uma das flores, qual é a que escolhe? O homem sorriu e disse: A Rosa, é lógico!
O sábio por sua vez respondeu que às vezes os homens são movidos pela beleza externa e escolhem o que lhes brilha mais, o que mais vale a pena nos prazeres e isso não é amor, com o tempo morre. O cacto por sua vez, independentemente do tempo ou clima permanece o mesmo, verde com espinhos, e um dia vai dar a flor mais bonita que já viu, assim é sua esposa: conhece os seus defeitos, suas fraquezas, seus erros, nos seus momentos ruins é ela que está sempre pronta a te ajudar. A sua amante quer seu dinheiro, sua felicidade, seus espaços fantasias e seu sorriso, na primeira dificuldade não hesitará em trocá-lo por outro amante jovem, feliz e com dinheiro."
E eu nunca te menti, nunca prometi que ia ser fácil nem que tinha um feitio comum e fácil de lidar. Apenas que não te ia magoar e sei que, nesse aspecto, eu cumpri a minha promessa. Cumpri tanto que me magoei a mim, mil e quinhentas vezes, e nunca te cobrei nada nem te retirei da minha vida.
Ambos sabemos que passámos por tempos muito, muito difíceis e é hoje, ao fim de oito meses, que vejo que nunca consegui ser o suficiente mas eu nunca prometi sê-lo. Fui inteira mas não fui suficiente. Não te fui suficiente, a ti, que eras a única pessoa a quem eu queria ser tudo e não apenas o suficiente.
E tu deixaste tudo. Agarraste-te aos meus erros justificáveis e eu agarrei-me às vezes que te perdoei por me teres magoado e eu me ter calado. E perdoava-te as vezes que fossem precisas desde que soubesse que era, no mínimo, suficiente. E agora percebo que não o sou, que te magoei com coisas pequeninas e que não foste capaz de me perdoar, como eu fui, ao fim de tanto tempo. Se calhar eu não devia ter escondido as vezes que me magoaste mas a verdade é que não me arrependo, porque eu preferia estar mal durante um bocado, que nós estarmos assim. E eu aguentei, mas tu não. Tu não me aguentaste mesmo depois de eu ter dito que não era fácil. E ficámos assim, nada, porque eu não te fui suficiente e porque tu não foste capaz.